Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sábado, 28 de julho de 2012

Queria despir-me de ti / I want to undress of you

Foto: 365 day ninety-nine not for the applause; Autor: Foxtongue


Queria conseguir despir-me de ti, mas a tua pele está tão junto ao meu corpo, que parece que já é minha.
Como aquela camisola, que não consigo deixar de vestir apesar de, que me assenta tão bem, que é tão quentinha.
E agora, que está a chover, preciso tanto de um agasalho...

*********
  
I want to be able to undress of you, but your skin is so close to my body, that it feels as if i tis mine already.
Like that sweater, I can’t stop dressin ins spite of, that fits me so well, that is so warm.
And now, that is raining, I really need something to keep me warm…

sábado, 21 de julho de 2012

Ilha / Island

Foto da web

Juntos somos uma ilha, seduzidos pelo descanso do frenesin de ser continente nos dias comuns. Sem bússola, flutuando ao sabor das marés.
Lá fora travam-se batalhas, a janela abafa os sons dispersos que ainda tentam chegar. Cá, o elmo e a espada descansam num canto. Os nossos corpos, livres da armadura, entregam-se à leveza.
Desaparecem as feridas e esquecem-se as cicatrizes, as que nos marcam e as que se formarão.
Os teus beijos refrescam os meus lábios, matam-me a sede, sede de dias a atravessar o deserto. A minha pele respira, finalmente, aspirando o teu perfume.
Os nossos corpos são como peças num puzzle, que se constrói devagar, juntando as peças uma a uma, no lugar certo. Peça a peça se vai formando um mapa sem coordenadas, mas não precisamos de guia. O caminho surge na certeza do destino.
Perdes-te. Também eu me perco. Sem corpo. Sem armadura. Sem paredes. Eu sou tu. Tu és eu.

*-*-*

Togheter we are an island, seduced by resting of the frantic common days, when we are a continent.
Outside, battles are fought, the window muffles the scattered sounds that still try to reach. Here, the helmet and sword rest in a corner. Our bodys, free of the armour, give in to easiness.
All the wounds are gone, and the scares forgotten, the ones that brand us and the ones that will form.
Your kisses refresh my lips, end my thirst, thirst of days crossing the desert. My skin breaths, finally, feeling your perfume.
Our bodys are like pieces in a puzzle, being buid slowly, putting the pieces thogheter one by one, in its right place. Piece by piece a map comes together, a map without coordinates, but we don’t need a guide. The path arises in the certainty of the destination.
You get lost. I get lost too. No body. No armour. No walls. I am you. You are me.

sábado, 14 de julho de 2012

Fim da linha / End of the line


Hoje vou deixar-me acorrentar.
Vou sucumbir à loucura, deixá-la pedir o resgate, mesmo sabendo que ninguém o pagará. Que apenas me restará fugir quando a ilusão me sufocar tanto como a realidade, quando estiver prestes a afogar-me em tudo o que não sei se sou.
Quando já não souber onde está marcada a fronteira, que alguém desenhou a giz, sem perceber que o giz é pó.

Retirado do baú, 26.06.2006



Foto: The Ties That Bind; Autor:Wetsun


Today, I’ll let myself be chained.
I shall succumb to madness; I will let it ask for a ransom, even knowing that nobody will pay it. That all it will be left to do is to run away, when illusion suffocates me as much as reality, when I’m about to drown in everything I don’t know whether or not I am.
When I no longer know where the border is marked, the border which someone drew in chalk, not realizing that chalk is dust.

From my trunck, 26.06.2006

...Expectativas... / ...Expectations...

Alguns esperarão que sejas tudo. Outros desejarão que sejas nada. A todos desiludirás. Porque o tudo e o nada não existem. Foram eles que os inventaram.

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Some will hope that you are all. Others will wish you are nothing. You will disapoint everyone. Because all and nothing don't exist. They made it up.

terça-feira, 10 de julho de 2012

O palhaço malabarista / The juggler clown (II)

"Applause for 'Blast!' at the Kneehigh theatre", by Gordon Plant


-- II --

Hoje não houve alternativa. Alberto nunca falhara um dia de palco em toda a sua longa carreira, mas hoje a sua saúde cedeu, deixou-o de cama.
Já tinha colocado as roupas coloridas, os enormes sapatos, a cabeleira de caracóis. Olhou-se novamente ao espelho, apenas mais um pouco de vermelho, para alargar o sorriso. E, finalmente, o nariz de palhaço! Vendo a sua verdadeira imagem reflectida no espelho, pensou mais uma vez no Alberto, e em como lhe iria agradecer esta oportunidade, ao Alberto que nunca ficava doente.
Abriu a porta do pequeno camarim e enquanto se dirigia ao palco começou a sentir um nervoso miudinho, diferente do que sentia habitualmente. Não havia o perigo de deixar cair um dos malabares, mas antes o terrível perigo de que uma criança não risse.
O mestre de cerimónias anunciava já o seu número. Fechou os olhos e voltou a abri-los, perante o mundo com que tanto sonhara.
Durante os 15m da actuação, tropeçou, riu, disse tolices, deu cambalhotas, caiu sobre si próprio.… O público respondia entusiasticamente, nem precisaria da ovação final, já tinha recebido risos, não pedia mais nada naquele momento.
Nessa noite, dormiu feliz.
Acordado pelo Alberto, recebeu um abraço de parabéns, o Alberto estava já muito melhor.
Voltou ao seu treino de malabares, não muito concentrado, revia a actuação da noite anterior, as palmas, como ainda ouvia as palmas.
Horas mais tarde, o Alberto veio ter consigo, cabisbaixo, tentara convencer o Marco a deixá-los fazerem dupla, mas ele não acedeu. Não lhe contou os pormenores, mas ele conseguia quase ouvir a resposta, não havia surpresas. O palhaço-malabarista abraçou o seu mestre, “Não faz mal, agradeço-lhe esta oportunidade. Como sempre me disse, eu sou palhaço, malabarista é apenas algo que sei fazer. É isso que me importa”
O palhaço saiu da tenda, ainda a tarde começava. Dirigiu-se ao outro lado da cidade. Lá estava montado um outro circo, um circo que estava a dar os primeiros passos, mas de que já se começava a ouvir falar. Talvez precisassem de um palhaço que também estava a começar…! Apenas sentiria falta do Alberto, mas a distância pode sempre encurtar-se.


Texto enviado como participação num desafio da Fábrica das Letras: http://fabricadeletrasepalavras.blogspot.pt/2012/07/tema-de-julho-motivacao.html

*-*-*-*-*-*-*-*-*


Today he had no alternative. Alberto never failed a day's stage throughout his long career, but now his health gave way, left him in bed.
He had puted on the colourful costumes, the huge shoes, the curly hair. He looked again at the mirror, just a little more red, to widen the smile. And finally, the clown nose! Seeing his true image reflected in the mirror, he thought once again about Alberto, and how he would thank him for this opportunity, to Alberto, who never got sick.
He opened the door of the small dressing room and as he walked to the stage he began to feel nervous, but it felt different than usual. There was no danger of dropping one of the juggling pieces, but the terrible danger that a child didn’t laugh.
The master of ceremonies already announced his number. He closed his eyes and opened them again, before the world that he dreamed about.
During his 15m performance, he stumbled, laughed and said foolish things,  fell upon himself ... The public responded enthusiastically, no need for the final ovation, he had received laughs, he didn’t ask for anything else at that time.
That night he slept happy.
Awaken by Alberto, he received a hug of congratulations, Alberto was already much better.
He returned to his juggling training, not very concentrated, reviewed the performance of the night before, the applause, oh he still heard the applause.
Hours later, Alberto came to him, head down, he had tried to convince Marco to let them double on the show, but he didn’t agree. He didn’t share the details, but he could almost hear the answer, no surprises. The clown-juggler hugged his master, "It's okay, thank you for this opportunity. As you always told me, I'm a clown, juggler is just something I can do. That's what’s important"
The clown came out of the tent, to the afternoon that began. He went to the other side of town. There sat another circus, a circus that was taking its first steps, but that was already beginning to be heard of. Maybe they needed a clown who was also starting...! He would miss the Alberto, but the distance can always be shortened.


(To read the begining of the story)

sábado, 7 de julho de 2012

O palhaço malabarista / The juggler clown (I)


El mundo al revés_Sergis blog
-- I --


O palhaço malabarista coloca a maquilhagem passo a passo.
Tantas vezes ensaiou este momento, sentia medo do palco. Já o enfrentara tantas vezes antes, conseguia palmas, conseguia suspiros de surpresa. Com o equilíbrio difícil dos objectos em movimento.
Tinhas palmas, mas queria risos.
Olha as cores espalhadas à sua frente, inseguro quanto à quantidade de branco que utilizou e ao tom de vermelho que escolheu para o enorme sorriso.
Alberto deixava-o assistir aos seus ensaios, mas nunca o tinha acompanhado neste processo de transformação em que um homem comum, se torna numa personagem que consegue por vezes arrancar risos aos mais sisudos.
Era um bom amigo, o Alberto. Clandestinamente, ensinava-lhe alguns truques da sua arte. Marco não sabia das horas de treino que passava a aprender a ser palhaço. O dono do circo não acreditava que o malabarista poderia ser outra coisa que não malabarista. “Não te safas mal com os malabares, faz o que sabes fazer, e não sonhes mais.”
Mas o malabarista atrevia-se a sonhar mais alto que a sua própria altura. (*)
E o seu mestre encorajava-o: “O treino fez de ti um bom malabarista, rapaz. Mas a tua alma é de palhaço. E é a nossa alma que nos faz caminhar, as pernas só tornam o andar mais rápido.


(*) “Sou do tamanho dos meus sonhos e não do tamanho da minha altura.” Fernando Pessoa


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The juggler clown puts on the makeup step by step.
He has rehearsed this moment so many times, he was afraid of the stage. He had already faced it so many times before, he had applause, had gasps of surprise. Achieved with the difficult balance of moving objects.
He had applause, but he wanted to ear laughs.
Looking at the colours spread out before him, unsure as to the amount of white  to use and about which red colour to choose for the big smile.
Alberto let ​​him attend his trials, but he never had accompanied this transformation process, in which an ordinary man becomes a character that can sometimes make the grim laugh.
He was a good friend, Alberto. Clandestinely, he taught him some tricks of his art. Marco did not know of his hours of training, learning to be a clown. The ringmaster could not believe that the juggler could be something other than a juggler. "Your not too bad with juggling, do you know how to do, and don’t dream anymore."
But the juggler dared to dream higher than his own height. (*)
And his teacher encouraged him: "The training has made you a good juggler, boy. But your soul is one of a clown. It is our soul that makes us move, our legs only helps us go faster.”

(*) “I’m the size of my dreams and not the size of my height.” Fernando Pessoa 



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